quinta-feira, janeiro 15, 2004

Cogumelos Na Calçada ou A Sina Do Fungo Rasteiro

Saí de casa já a tarde caía nos braços da noite, a cidade acendia-se e a empregada do café estava cada vez melhor. A chuva reteu-me tempo demais dentro daquele antro burguês. Um velhote, aparentemente incomodava uma mesa de meninas finas, que ali falavam há muito sobre malas, namorados e outros acessórios. Não sei se lhes incomodava o cheiro, o aspecto, a idade, ou só o facto do homem estar ali, de pé, ao lado delas com um sorriso malicioso. Olhavam para ele horrorizadas e eu juro que vi uma gota de suor escorrer na cara de uma quando lhes pediu um cigarro e uns trocos para um café. A mais bonita de todas (é incrível como a beleza pode azedar uma mulher) chamou o serviçal, que, de imediato atendeu ao pedido de socorro das princesas e arrastou o homem para fora do palácio - "não pode estar aqui sem consumir" - e atirou-o á chuva. Paguei, saí e ofereci um cigarro ao homem, que se abrigara do dilúvio ali mesmo ao lado - "e aqui tem umas moedas, mas vá a outro sítio, que o café aqui é quase tão mau como a clientela". No caminho de casa diverti-me a imaginar como seria se fosse ao contrário e as meninas se tivessem de abrigar da chuva num café de velhos do dóminó e de sorrisos maliciosos. A dois passos da minha porta, pisei algo mole, pensei que fosse merda e já quando amaldiçoava um Lulu qualquer, descobri uma série de cogumelos q nasceram na calçada, debaixo dos meus pés. Fungos que nascem de pedras da calçada são iguais a pobres velhos solitários, há sempre pés que não evitam pisá-los.